Artigo: “Micro privatização da arena”, por José Lemos
17 de abril de 2017 |
Sempre que posso vou à Arena Pantanal torcer pelos times mato-grossenses e domingo passado fui assistir Dom Bosco e Sinop, às 10 horas da manhã. Apesar do horário alternativo aparentemente impróprio “para a prática do esporte bretão” como diriam os antigos “speakers” do futebol brasileiro, foi um grande jogo de futebol. Liberada a ala Leste, o lado da sombra matinal, deu também para comprovar o acerto do arquiteto Sérgio Coelho em deixar vazados os cantos das arquibancadas para aproveitamento do efeito chamado na arquitetura de “ventilação cruzada” favorecendo uma leve brisa ao longo de todo o jogo. Na sombra com um ventinho e a parada técnica para os jogadores, o horário diferenciado também me pareceu aprovado.
Outra satisfação foi ver lá o atual responsável pela Arena, o secretário-adjunto de Esportes Leonardo de Oliveira com a camisa do Dom Bosco em meio à torcida. A satisfação vem do fato de hoje ser raro um político frequentar locais com muita gente, no meio do povo, torcendo tranquilo, isto é, tranquilo na medida do possível já que seu time esteve sempre correndo atrás no placar e acabou perdendo. E no intervalo tivemos oportunidade de conversar com ele mostrando através do vidro as carteiras escolares ocupando alguns dos camarotes compondo uma nova escola para 300 alunos em tempo integral com iniciação em diversas modalidades esportivas, escola acertadamente chamada de “José Fragelli”. Uma manhã proveitosa para um fã da Arena desde sua construção. Enfim alguém pensando corretamente o futuro de nossa premiada Arena, o que até hoje não ia além do chavão “privatizar ou não”, como se essas opções bastassem para o sucesso ou condenação da belíssima praça esportiva. A ideia poderá literalmente fazer escola.
Minha satisfação foi ampliada pois em um artigo em fevereiro ousei fazer uma sugestão para Arena, o Palácio dos Esportes, que vai no mesmo rumo deste que o estado está propondo, a Arena-Educação. São projetos convergentes que me animam a ousar detalhar um pouco a proposta do Palácio dos Esportes, talvez somando alguma coisa com a Arena-Educação. Grosso modo, o Palácio dos Esportes seria similar a um shopping especializado em esportes, gerenciado pelo próprio governo ou terceirizado para empresa com experiência na administração de shoppings. Com um projeto de estado perfeitamente definido se pode falar em terceirização ou privatização. Mantida a prioridade para o futebol das bolas redonda e oval, nele estariam espaços para os clubes venderem seus produtos, museu do esporte mato-grossense, sala para turistas, ligas e federações esportivas, salas para iniciação e treinamento de diversas práticas esportivas e de exercício corporal. Parte permanecendo com o estado para a escola e outros projetos esportivos de interesse social e parte alugado para academias particulares diversas, indo desde o balé, ioga, xadrez, ginástica, passando pelo skate, patinação, até o Boxe, Judô, Karatê, Taekwuondo, etc. Vai até o aluguel de espaços para academias de ginástica, comércio de material esportivo, clínicas de fisioterapia e nutrição. Com a Arena “microprivatizada”, seu sucesso geraria recursos para sua manutenção e financiamento de parte da política estadual de esportes.
Nesse projeto se integrariam progressivamente os novos COT’s, mini-estádios e ginásios espalhados pelo estado, hoje abandonados em sua maioria. As duas propostas parecem prever a Arena e o Ginásio Aecim Tocantins, sempre iluminados e bem cuidados, como cabeças de um projeto esportivo para Mato Grosso, com sua escola recebendo alunos que se destaquem esportivamente em todo o estado, tirando os jovens da violência e das drogas, e preparando atletas e cidadãos para o futuro.
JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é conselheiro do CAU/MT e professor universitário. joseantoniols2@gmail.com