ANTP diz que escolha do VLT foi “desastrosa” e defende BRT
25 de fevereiro de 2015 |
Técnico diz que população cuiabana sofre “estresse institucional” e cobra posição do Governo
Em meio à polêmica que envolve o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), se depender da análise de técnicos em transportes públicos, Cuiabá vai continuar “fora dos trilhos” por um bom tempo. Para Antenor Pinheiro, coordenador da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Regional Centro-Oeste, cabe ao governador Pedro Taques (PDT) livrar a população do que ele denomina de “estresse institucional”.
O técnico acha que a sociedade mato-grossense se sente “enganada” e merece uma resposta transparente, muito além da troca de acusações entre os governos passado e o atual.Pinheiro lembrou que há suspeitas de que a substituição do modal BRT (Bus Rapid Transit) pelo VLT teria sido patrocinada por lobistas. “Uma escolha desastrosa que elevou em 92% o custo da obra. Enquanto gastaria R$ 435 milhões com o BRT, o Governo optou por desembolsar R$ 1,4 bilhão pelo VLT”, disse.
Especialista em trânsito, com várias passagens pela administração pública do Estado de Goiás, Antenor Pinheiro lamentou que seja rotina no Brasil a ingerência política, especialmente quando se trata de projetos de mobilidade urbana, porque envolvem grande volume de obras e recursos com cifras a perder de vista.
Em 2011, quando esteve na capital mato-grossense, ele defendeu a implantação do BRT. Hoje, mantém a mesma postura e acredita ser razoável que o governador Taques reveja o projeto do VLT, apesar dos custos já assumidos pelo Tesouro Estadual. O próprio governador, a propósito, já vem admitindo essa possibilidade.
O representante da ANTP reafirmou a preferência pela retomada do projeto do BRT, mas considerou que é preciso dividir as responsabilidades. “O Governo deve abrir o debate para a população, chamando representantes de todos os segmentos envolvidos, principalmente entidades de classe”, disse Pinheiro. Ele lembrou que o Estatuto da Metrópole (Lei 13.089), sancionado em janeiro deste ano, dispõe sobre preceitos que podem sustentar a mudança. “O que impede a troca de um projeto de transporte por outro que permite reordenar a mancha metropolitana já existente e que teve os problemas agravados por caprichos de lobistas? Por que não aproveitar a crise estabelecida e atuar em conjunto com os municípios que formam a Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá?”, provocou Pinheiro.
Em outros países, lembrou ele, a excelência técnica foi obtida após exaustivos debates que se arrastaram por 50 anos. Com a legislação em ordem, gestores puderam equacionar os pontos que impediam avanços na área de mobilidade urbana. A maioria das cidades da Europa, Ásia, EUA e Canadá utilizam VLTs, metrôs, BRTs, ciclovias, hidrovias, calçadas e trens. Nos últimos anos, foram criados espaços para skates e patins, todos bem estruturados e integrados entre si. Na América do Sul, em 15 anos, cidades como Bogotá, Cáli e Medelin (Colômbia), Santiago (Chile), Arequipa (Peru) e Guadalajara (México) implantaram sistemas semelhantes.
Segundo o técnico da ANTP, o interessante é que esses projetos foram elaborados e executados por técnicos brasileiros. Paradoxalmente, foram “rejeitados” pelo mercado local.
Vozes das ruas
Algumas pessoas ouvidas pela reportagem do MidiaNews comentaram o impasse que a Capital vive com as obras inacabadas da Copa 2014.
A maior parte confessa ter acreditado no legado prometido pelo então governador Blairo Maggi, responsável por trazer a Copa do Mundo e suas obras para Cuiabá e cobra solução para os transtornos provocados pelas obras do VLT.
Alexandre Rocha, 16 anos, estudante, reconheceu não entender muito de política. Reclamou do desmanche da cidade, da demora no trânsito e, até hoje, disse não imaginar os motivos que levaram o Governo a “fazer esta bagunça”, apontando para o Viaduto da Sefaz, que, para ele, deve ser “explodido”
Alessando Fernandes, 40 anos, comerciante, se mostrou decepcionado com o tal do legado da Copa. “Cheguei a imaginar uma Cuiabá moderna com os trens passando para lá e para cá. Que engano! Espero que o governador Pedro Taques faça alguma coisa logo. Se bem que político promete e não faz”, disse.
Carmem Cintra, 53 anos, diarista, disse que não suporta mais o trânsito lento e a demora nos pontos de ônibus. “Perdi muitos trabalhos, porque comecei a chegar sempre atrasada”, afirmou. Sobre se deve ser VLT ou BRT, ela não tem opinião. Quer apenas que funcione.
Márcia dos Santos, 24 anos, balconista, lembrou só do tempo da Copa, que “foi uma diversão”. “Agora é essa tristeza. Tudo feio, sem contar a lama que desce quando chove e a escuridão que ficou a Avenida do CPA. Dá medo de noite, no ponto de ônibus”, disse.
VLT em números
Custo total – R$ 1.477 bilhão
Extensão – 22 km
Linhas – 02
Estações – 33 (01 só entregue)
Vagões – 40
Conclusão – Sem previsão. Consórcio VLT reclama repasses de R$ 218 milhões pelo Estado e R$ 193 milhões à Caixa Econômica Federal
Diferenças entre modais
BRT (Bus Rapid Transit) é um sistema de ônibus de alta capacidade, que prevê um serviço rápido, confortável e eficiente. Com a utilização de corredores exclusivos, o BRT simula o desempenho e outras características atrativas dos modernos sistemas de transporte urbano sobre trilhos. Em duas faixas, recomendável para o transporte de até 12 mil passageiros/hora, atingindo 20 mil em horários de pico.
VLT (Light Rail ou Veículo Leve sobre trilhos) é uma espécie de trem ou comboio urbano de passageiros. Os sistemas de VLT são normalmente alimentados por eletricidade ou a diesel.Uma das desvantagens é não ser completamente independente do tráfego e isso pode ocasionar acidentes. Em duas faixas, recomendável para o transporte de até 26 mil passageiros/hora, atingindo 30 mil em horários de pico.
O que é o Estatuto da Metrópole?
É uma lei federal, sancionada no dia 12 de janeiro, que tem o objetivo de criar regras para a governança compartilhada de grandes aglomerados urbanos que envolvam mais de um município, como já acontece nas principais capitais do Brasil.
Ela fixa diretrizes gerais para o planejamento, a gestão e a execução de políticas públicas em regiões metropolitanas e aglomerações urbanas instituídas pelos estados.
O que é metrópole?
É o espaço urbano com continuidade territorial que, em razão de sua população e relevância política e socioeconômica, tem influência nacional ou sobre uma região.
É considerada aglomeração urbana a unidade territorial constituída pelo agrupamento de dois ou mais municípios vizinhos, caracterizada por complementaridade funcional e integração das dinâmicas geográficas, ambientais, políticas e socioeconômicas.
Fonte: Midia News