Aplicação de tecnologias indígenas na arquitetura contemporânea
19 de abril de 2022 |

Centro Sebrae de Sustentabilidade. Foto: Rai Reis.
O Dia do Índio, comemorado no dia 19 de abril, foi instituído no Brasil via decreto-lei, no ano de 1943. A data tem o propósito de uma reflexão crítica das relações de dominação ocorrida com esses povos, destacando sua importância na formação da cultura brasileira. É também um espaço para a preservação de sua história e valores culturais. A arquitetura contemporânea é uma das áreas que pode se inspirar nas habitações indígenas.
As construções indígenas variam conforme uma série de fatores – como tribo, quantidade de pessoas, finalidade de uso. Contudo, elas têm em comum a capacidade de se adaptar as diferentes condições do ambiente, além de ser um exemplo de modelo de sustentabilidade. Um exemplo de aplicação das técnicas construtivas indígenas na arquitetura brasileira contemporânea, é o Centro Sebrae de Sustentabilidade, que ilustrou campanhas nacionais do CAU em 2018 e 2020.
Localizado em Cuiabá, Mato Grosso, o projeto foi desenvolvido pelo arquiteto e urbanista José Afonso Botura Portocarrero, Doutor em tecnoíndia: tecnologias de construção indígenas e conselheiro federal pelo CAU/MT na Gestão 2021-2023. Ele foi convidado pelo Sebrae para desenvolver o projeto devido aos seus estudos sobre as habitações dos povos do Xingu, em especial do povo Yawalapiti, considerados exemplares em termos de arquitetura bioclimática.
O Centro Sebrae de Sustentabilidade tem um formato ogival, parecido com o de uma oca. Foi construído reaproveitando resíduos e adaptando o projeto ao terreno em declive, evitando a terraplanagem e preservando a vegetação nativa. O projeto propiciou conforto térmico devido a cobertura em duas cascas, que criam um bolsão de ar e promovem o resfriamento interno da construção. Promoveu também iluminação natural, captação da água da chuva para reutilização, e instalação de compostagem dos resíduos gerados no edifício.
Nos últimos anos o Centro Sebrae de Sustentabilidade recebeu diversas indicações e prêmios, entre eles podemos citar o Selo PROCEL Edifica Nível A em projeto e edificação construída em 2013; o Prêmio COBEE (Congresso Brasileiro de Eficiência Energética) em 2014; Certificação BREEAM In-use, classificação “Excelente” do Building Establishment Environmental Assessment Method, em 2016; Prêmio 15º Benchmarking Brasil do Instituto Mais, em 2017; Certificação Greenbuilding Council Zero Energy (GBC), em 2017; e prêmio BREEAM Awards 2018 como o melhor edifício sustentável das Américas e também na categoria voto popular.
As tecnologias e arquitetura indígenas em Mato Grosso foram o tema de uma obra desenvolvida pelo professor José Portocarrero, juntamente com a antropóloga aposentada pela UFMT, Maria Fátima Roberto Machado. Artigos produzidos nos últimos 20 anos de pesquisa e ensino resultaram no livro intitulado “Tecnoíndia: Arquitetura, antropologia e tecnologias indígenas em Mato Grosso”, publicado em 2021 pela editora Entrelinhas.
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