Artigo: “A casa e o carro”, por Jandira Pedrollo
30 de novembro de 2015 |
Milhares de veículos entraram em circulação nos últimos anos decorrente da política econômica federal de incentivo à indústria automobilística em detrimento da política de transporte de massas, o que prejudicou a implantação de um eficiente sistema de transporte coletivo.
Posteriormente à facilitação da compra de veículos pela população ocorreu a elevação do preço dos combustíveis, o que, juntamente com os constantes congestionamentos de trânsito, prejudicou a utilização do tão sonhado carro próprio. Muitos dos que se declaravam libertos de utilizar o deficitário transporte público são obrigados a retornar ao sistema pelo custo da utilização do veículo.
Além da política econômica voltada à produção de veículos, o governo federal adotou outra muito desejada pela população brasileira e destinada a alavancar a construção civil: a política habitacional implantada pelo Programa Minha Casa Minha Vida.
Apesar de exigências legais para a implantação dos conjuntos habitacionais, o processo, conduzido por empreendedores que têm direcionado o crescimento das cidades, também contribuiu para o agravamento da mobilidade urbana. Essa situação propiciou o deslocamento da população para lugares distantes dos locais com oferta de emprego e renda, com pouca disponibilidade de infraestrutura e serviços públicos. Dessa forma, a população já excluída da cidade se tornou cada vez mais dependente de meios de transporte onerosos, já não são mais possíveis os deslocamentos a pé ou de bicicletas para o trabalho, estudos, compras ou mesmo lazer.
Sem investimentos adequados no setor, para seus deslocamentos a população se vira como pode, é obrigada a utilizar transporte público coletivo composto por frota antiga, desconfortável e em número insuficiente; as passagens são caras para as condições oferecidas; com pontos de ônibus inadequados e percursos que nem sempre atendem a necessidade quanto ao destino final pretendido.
Em diversos municípios brasileiros foram aprovados empreendimentos pelo Programa Minha Casa Minha Vida nas franjas da cidade com o argumento do preço da terra, para onde são levadas milhares de pessoas. Vale lembrar que o valor da terra nesses locais são menores devido à ausência de infraestrutura e serviços públicos, ou seja “ausência da cidade”. Essa ausência tem custos para a cidade e para a qualidade de vida dos cidadãos, como: acesso ao saneamento, energia elétrica, segurança, educação, saúde e inclusive transporte público. O ideal seria que a habitação estivesse inserida à cidade já existente, pois assim teríamos a redução dos custos de manutenção da própria cidade e, consequentemente para os cidadãos.
Agora que a situação já está consolidada o que podemos fazer para, ao menos, contornar a situação? Como fica a responsabilidade do poder público frente à crescente exclusão social por ele promovida?
Sendo o poder público o responsável pelo espraiamento da cidade não deveria arcar com os custos do transporte público por meio do seu total subsídio?
Fica a questão a ser respondida.
Jandira Maria Pedrollo, arquiteta e urbanista. jandirarq@gmail.com
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