Artigo: “Centro da América”, por José Lemos
16 de setembro de 2016 |
Aqueles que nesta série de artigos me dão o privilégio semanal de suas leituras me perdoem, mas renovo a explicação introdutória de que estou aproveitando a ocasião das eleições municipais e da elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Vale do Rio Cuiabá (PDDI/VRC), para destacar alguns importantes fatores positivos capazes de impulsionar o desenvolvimento da Baixada Cuiabana. Fatores que estão aí prontos para serem usados com inteligência. Lembro neste artigo o Centro Geodésico da América do Sul, assim como já lembrei outros potenciais geradores de emprego e renda disponíveis no Vale do Rio Cuiabá e que estão de um modo geral abandonados ou subutilizados. Entre outras fontes, busco inspiração nos diversos artigos em que tratei do tema, desde o publicado em 1986 no saudoso “O Estado de Mato Grosso”, capeando caderno especial sobre o assunto, no qual diversas autoridades da época manifestaram-se a favor em sua quase totalidade.
Estivesse o centro geodésico em qualquer outra cidade do Brasil, há muito seria atração turística importante, promovendo a qualidade de vida de sua gente, ainda mais nesta época em que a integração do continente é tão propalada por motivos desde ideológicos, diplomáticos, comerciais ou culturais, até aos atuais projetos logísticos transoceânicos. Cuiabá tem a exclusividade do marco geodésico continental no antigo Campo D’Ourique, em frente à atual Câmara de Vereadores de Cuiabá identificado pelo Marechal Rondon, reconhecido mundialmente como um dos maiores personagens da humanidade, a ponto de ser indicado ao Nobel da Paz por Einstein e outras entidades científicas internacionais. Seria até hoje o único brasileiro a receber tal honraria. Não recebeu por ter falecido justo no ano da premiação e naquele tempo não havia a premiação post-mortem.
A ideia era, e ainda é, criar naquele espaço um centro referencial para a cultura sul-americana, aproveitando com as devidas adaptações a atual sede da Câmara, que deveria ser deslocada – e um dia será – para lugar mais destacado e acessível, como aliás chegou a propor Blairo Maggi, então governador, quando da transferência da Assembleia Legislativa para o CPA. Um lugar onde se desenvolvessem estudos, exposições, congressos, festivais e outras atividades sobre as manifestações populares do continente como, por exemplo, cursos das diversas línguas atuais e pré-colombianas (quíchua, aimará, guarani e outras), gastronomia, danças, oficinas de ensino e de fabricação de instrumentos musicais como a belíssima harpa paraguaia, o charango, as flautas andinas, a nossa viola de cocho, etc. Podia até iniciar com uma festa anual simples, aproveitando as colônias locais em um grande abraço sul-americano, em comemoração à cultura popular do continente com barracas de cada país, música, dança, comidas típicas.
Mas é preciso pensar grande, à altura do significado mágico daquele pedaço de terra no antigo Campo D’Ourique. É fundamental que os setores governamentais e empresariais queiram e se articulem, em especial o setor turístico e hoteleiro, este com capacidade ociosa pós-Copa. O voo regular para a Bolívia está prometido para dezembro. Junto às belezas do Pantanal, Chapada e Nobres, das termas de São Vicente, do Memorial Rondon, da Amazônia, do Cerrado e das fantásticas paisagens da agropecuária high-tech, com seus rebanhos, algodoais, campos de girassol e de soja, um centro cultural sul-americano no centro da América do Sul transformará Cuiabá em um pacote de atrações muito vantajoso ao investimento do turista nacional e internacional. Empregos, renda e desenvolvimento, principalmente cultural, é o que Cuiabá e Mato Grosso ganharão. Um dia acontecerá. Por que não agora?
JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é conselheiro do CAU-MT e professor universitário. Contato: joseantoniols2@gmail.com