Artigo: “Cidades técnicas”, por Tânia Matos
22 de maio de 2018 |
Sem o planejamento urbano e consequentemente a organização do sistema para atender de forma adequada cada objeto que faz parte do contexto da cidade de acordo com sua tecnologia, a cidade vira uma confusão só.
No século passado as cidades eram organizadas com foco nas pessoas, desde as vias públicas até os comércios. Hoje as cidades estão com um perfil voltado para o fluxo de coisas e depois pessoas. Tudo o que é pensado em termos de obras de infraestrutura visa atender primeiramente à demanda para circular veículos, mercadorias e por último as pessoas, e por conta disso houve uma mudança nos últimos tempos em relação à organização das cidades.
As grandes metrópoles são exemplos de urbanização que demanda a cada dia mais soluções que destravem a teia existente principalmente no que se refere à mobilidade.
Nas cidades contemporâneas cada vez mais o fluxo de informação, pessoas e mercadorias se intensifica e define a morfologia urbana, que necessariamente precisa se adequar para atender às demandas por estruturas e movimentos.
As cidades tornaram-se, ao longo do tempo, técnicas, ganhando uma nova dinâmica, havendo a necessidade de ser repensadas e readequadas, sob pena de sofrerem o caos urbano principalmente por conta do excesso de veículos que trafegam por suas vias.
Segundo dados do Ipea de 2008, 45,2% da população brasileira possuíam transporte motorizado individual, seja automóvel ou motocicleta; esse mesmo estudo apontava o aumento elevado desse percentual para os próximos anos. E é exatamente essa a realidade que vivenciamos hoje nas grandes cidades, potencializada pela oferta de linhas de crédito que facilitaram e continuam facilitando a aquisição de veículos.
Esse modelo atual de sistema de transporte preponderantemente individual vai na contramão em relação ao que se busca em termos de cidades sustentáveis, que tem o uso do transporte coletivo como uma das alternativas para a solução da questão da mobilidade, que será o caminho para o reequilíbrio nas cidades quanto ao excesso de veículos.
O quadro atual dos meios de transporte demonstra que as cidades e particularmente as grandes são planejadas em função do automóvel, o sistema pensado é articulado para facilitar o fluxo de veículos e não de pessoas, consequentemente as cidades são preparadas para esse tipo de cliente, o veículo. É preciso urgentemente buscar alternativas antes que o caos se estabeleça.
Tânia Matos é arquiteta e urbanista, administradora, pós-graduada em Gerência de Cidades, mestranda, presidente da Agência Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá.