Artigo: “O Porto histórico de Cuiabá”, por Tânia Matos
17 de outubro de 2016 |
O valor histórico da zona portuária de Cuiabá é inestimável. Lá estão as raízes do povoamento e desenvolvimento da cidade de Cuiabá e do Estado, por meio de formas e histórias de vidas que ali foram construídas.
A Portaria 035/SEC/2007 dispõe sobre o tombamento para o patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Mato Grosso do “Conjunto Arquitetônico Antigo Distrito D. Pedro II Porto em Cuiabá/MT, […], passam, por conseguinte, a ser tutelados pela proteção especial do Poder Público Estadual, que valerá para que os efeitos previstos em suas normas disciplinadoras sejam devidamente respeitados no interesse geral da coletividade portuária como uma memória viva da comunidade do século XVIII. Sujeitando ao prévio exame do órgão estadual os projetos que visem modificar ou alterar o bem tombado para preservar e proteger sua visibilidade e ambiência”.
Essa portaria também nos faz lembrar o papel importante do Rio Cuiabá no processo de desenvolvimento do Porto. “ […], o Rio servia de meio de transporte e sobrevivência para a comunidade. Casas foram sendo construídas à margem do rio Cuiabá para abrigar as pessoas que tinham suas vidas ligadas a ele. Período de grande movimentação e prosperidade ligado ao próprio crescimento da população”.
O conjunto arquitetônico porto histórico de Cuiabá, apesar de sua posição estratégica, ficou de certa maneira à margem da cidade, abandonado no tempo e no espaço. Verificando o período após seu tombamento, percebe-se que pouco ou quase nada foi feito que evidenciasse algum tipo de ação executada com o intuito de preservá-lo. Atualmente o que se vê quando adentramos a parte onde ficam os casarões históricos é uma situação caótica, triste e de total abandono. Algumas pessoas vivem ali em condições subumanas, sem rumo e sem expectativa de vida.
As edificações históricas e centenárias não habitadas estão sendo destruídas pela ação do tempo e do ser humano. É o registro da história da ocupação de Cuiabá indo embora sem que nada seja feito para que a memória da origem do povo cuiabano não seja apagada. É a destruição do patrimônio arquitetônico porto histórico.
Os poucos moradores que insistem em continuar no local vivem em condições precárias. Alguns por ser a sua única opção, outros por não conseguirem desvincularse de sua história de vida ali construída. Os comerciantes lutam para se manter no local, uns por falta de oportunidades e outros porque já investiram tempo e dinheiro.
O bairro do Porto já viveu seu apogeu e sua decadência. Está acontecendo a requalificação da orla portuária. Mas o que efetivamente essa requalificação vai trazer para a comunidade portuária é uma pergunta que precisa ser respondida por meio de outras perguntas, tais como: existe projeto social que inclui a comunidade local nas novas atividades que estão sendo propostas? Haverá algum tipo de fomento aos comerciantes locais?
Se as respostas forem afirmativas, se os responsáveis pela elaboração desse projeto levaram em consideração essas questões, então teremos novamente a possibilidade de ver a vida local ser retomada de forma harmoniosa e integrada com a requalificação. Se as respostas forem negativas teremos lamentavelmente a exclusão da comunidade local e a cisão entre a orla requalificada e o restante do patrimônio arquitetônico do Porto histórico. Fica a reflexão.
Tânia Matos é arquiteta e urbanista, administradora, pós-graduada em Gerência de Cidades, mestranda em Ensino, presidente da Agência Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá. E-mail: maristenematos@gmail.com
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não me ajudou em nada
Consegui algumas informações do bairro neste artigo.
Por isso, agradeço pelas informações.