Artigo: “Para onde vão as cidades?”, por Tânia Matos
6 de junho de 2016 |
A cidade é o centro de vida social e política, onde se acumula não somente a riqueza, mas também o conhecimento.
Em alguns países as cidades cresceram além do esperado, como no Brasil, dificultando desta forma para alguns governantes a realização de planejamento urbano adequado, que proporcionem melhoria na qualidade de vida da população.
O processo de crescimento desordenado e sem planejamento das cidades origina problemas como a exclusão social e a degradação ambiental.
A adaptação das cidades a um modelo sustentável, e em algumas situações pautada nas premissas do novo urbanismo, por meio de articulação intrabairros, pode ser a alavanca de um processo de desenvolvimento de qualidade de vida, que mobiliza investimentos, gera empregos, renda e bem-estar.
Percebe-se atualmente nas cidades brasileiras a transformação do solo urbano em mercadoria com grande valor de troca. Muitas vezes essa valoração do espaço pode segregar e expulsar pessoas, criar periferias sociais e refletir desigualdades. Pressupondo-se que a cidade é produto da ação e dinâmica social de grupos com diferentes interesses, pode-se dizer que na parcela da sociedade com maior fragilidade social, encontram-se pessoas que querem simplesmente conquistar o direito à moradia, e em outros grupos de pessoas que detêm alta concentração de renda.
Portanto é o poder de poucos ditando o destino de muitos, determinando e direcionando a valorização do solo urbano em nome do capital, configurando um processo perverso de gentrificação do espaço urbano que sistematicamente desconsidera que pessoas constroem histórias de vida e identidades no seu lugar de vivência. Para alguns autores com Lefréve (1973), a produção do espaço urbano “se refere aos processos de atuação das forças produtivas capitalistas no espaço (urbano), bem como suas repercussões na produção das relações sociais e ideológicas inerentes aos grupos humanos”.
No cenário atual há questionamentos de vários autores, que problematizam “Para onde vão as cidades?”, visto que são muitas as demandas frente às mudanças sociais brasileiras, como: o envelhecimento da população, urbanização, subfinanciamento, valor da terra, entre outras.
A ocupação de forma sustentável das cidades só será possível por meio do planejamento urbano inclusivo, ou seja, elaborado de forma participativa onde as necessidades das pessoas que vivem e constroem as cidades seja o material estruturador desse planejamento.
O problema maior das grandes cidades é ocasionado pela falta de consciência dos agentes públicos quanto à importância de se pensar a cidade como um todo. É preciso que entendam e enxerguem o planejamento urbano como papel estratégico para o desenvolvimento em todas as áreas. Temos no Brasil 5.570 municípios (IBGE 2015), onde aproximadamente 85% da população é urbana, sendo que a maioria das cidades foram e continuam sendo consolidadas de forma irregular.
A falta de planejamento reflete de maneira negativa em todos os setores que compõem a cidade, onerando assim a máquina pública.
O planejamento urbano é o caminho para uma gestão equilibrada e coerente, e como resultados teremos a sustentabilidade, a sua falta ocasiona situações muitas vezes irremediáveis e insolúveis. Como diz o Arquiteto e Urbanista Jaime Lerner “As cidades não são tão complexas como querem nos fazer acreditar os vendedores de complexidades”, o problema maior é a falta de vontade política aliada à falta de estratégia de soluções para evitar consequências futuras. É preciso consolidar o planejamento urbano como caminho-solução para tornar as cidades sustentáveis.
Fora isso teremos o caos urbano.
Tânia Matos é Administradora, Arquiteta e Urbanista, pós-graduada em gerência de cidades e Doutoranda em Administração. E-mail: maristenematos@gmail.com
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