Empresas abandonam obras e materiais
25 de fevereiro de 2015 |
Estruturas metálicas armazenadas sem proteção, materiais de construção em caixas abertas, infiltrações nos corredores, poças de água espalhadas pelo campo e assentos já apresentando defeitos. São nessas condições em que se encontram as obras do Centro Oficial de Treinamento (COT) da Barra do Pari, em Várzea Grande, e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá.
Somados, os dois projetos contabilizam pouco mais de R$ 40 milhões, sendo pelo menos R$ 36 milhões já pagos às empresas responsáveis. A principal delas é a Engeglobal Construções, que também responde pelas obras de restauração da avenida 8 de Abril, reestruturação e revitalização do Córrego Mané Pinto, na Capital.
Orçado em R$ 25,7 milhões, esse projeto teve 64% de sua execução concluída até o momento, o que corresponde a mais de R$ 16 milhões pagos à construtora. Os valores ainda estão sendo apurados pela Auditoria Geral do Estado (AGE), que deve apresentar na próxima semana a situação real dos pagamentos e atrasos de todos os projetos relacionados à Copa do Mundo de 2014. Com o relatório em mãos, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) irá decidir a respeito da responsabilização das empresas.
Paralisados desde dezembro de 2014 devido à lentidão e não entrega dentro dos prazos estabelecidos, os canteiros indignam e revoltam a população que convive com máquinas e operários há quase três anos. Iniciadas em outubro de 2012 com orçamento de R$ 25.535.184,42, as obras do COT do Pari tinham data de conclusão prevista para 360 dias, ou seja, antes mesmo do final do ano de 2013 o Centro deveria estar pronto.
Quase três anos depois, o projeto passou a valer R$ 31,7 milhões, segundo informações dadas pela extinta Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa), graças aos aditivos concedidos ao Consórcio do Pari. Formado pelas empresas Engeglobal Construções, Três Irmãos e Valor Engenharia, o Consórcio já teria recebido cerca de R$ 22 milhões. O último aditivo autorizado pela Secopa deu o prazo de 31 de dezembro de 2014 para que a obra fosse entregue, assim como o COT da UFMT.
Além da ausência de máquinas e operários no local, chama a atenção também a quantidade de materiais praticamente abandonados nas proximidades da obra. Um desses são as estruturas metálicas utilizadas na cobertura do Centro, que estão sem qualquer tipo de proteção em um terreno em frente ao campo.
Trabalhadores informaram que das três estruturas, somente uma foi instalada. As outras duas estão à espera da continuidade da obra, ainda sem previsão. “Aqui faltam serviços de alvenaria, pintura e terminar a infraestrutura também. As estruturas estão aí, é só montar e fechar a cobertura. É preocupante, sim, deixar esses materiais abandonados, tomando chuva, sol e sem um lugar adequado”.
Presidente da Federação Matogrossense de Futebol, Helmut Lawisch, diz que é “indignante” ver os dois centros como estão. Segundo ele, em relação ao COT do Pari o erro na execução do projeto, que começou “de baixo para cima” é uma das causas para a “aberração” resultante na obra. “Ao invés de construírem primeiro a cobertura para depois fazerem os vestiários, assentos, lanchonetes, etc, não, agora está tudo sem proteção. É uma vergonha para a cidade e para o Estado. Infelizmente, os COT’s são apenas duas das aberrações que deixaram aqui por conta das obras da Copa”.
Já em Cuiabá, o COT da UFMT teve orçamento inicial de R$ 15.860.570,47, porém, desde março de 2013 quando as obras começaram, o valor subiu para R$ 19,8 milhões. Tendo 300 dias para ser concluído, o Centro deveria ter ficado pronto nos primeiros meses de 2014. A obra é de responsabilidade do Consórcio Campus Universitário, formado pelas empresas Engeglobal Construções e Três Irmãos Engenharia. Até o momento, foram pagos aproximadamente R$ 15 milhões, o que representa quase o preço do orçamento inicial do projeto.
Erosão – Também de responsabilidade da Engeglobal, as obras restauração da avenida 8 de Abril, reestruturação e revitalização do Córrego Mané Pinto, foram iniciadas em novembro de 2012 com prazo para conclusão dentro de 240 dias. A obra é uma das mais atrasadas do pacote de mobilidade urbana, tendo aproximadamente R$ 16 milhões já pagos à empresa. Paralisado, o projeto voltou a receber operários nesta terça-feira (24) devido a uma erosão na cabeceira do córrego.
De acordo com o encarregado geral da obra, Luis Souza Lima, o asfalto na pista teria cedido em virtude das fortes chuvas nos últimos dias. Segundo ele, a erosão não pode ser contida antes justamente por causa do período chuvoso. “É um caso isolado e não há riscos de outras erosões como esta. Acredito que até amanhã (25) à tarde os reparos já estarão concluídos”. Ao todo, cinco pontos de deslizamento foram identificados ao longo do córrego.
Outro lado – A reportagem entrou em contato com a Engeglobal, mas não obteve retorno de seus representantes.
De acordo com a Procuradoria Geral do Estado (PGE), quanto à responsabilização das empresas diante dos atrasos nas obras, o órgão aguarda pelo dia 28 de fevereiro, em que um relatório completo realizado pela Auditoria Geral do Estado (AGE) deve apontar a situação das obras. Só depois destes resultados é que a Procuradoria tomará alguma decisão em relação às construtoras e andamento dos projetos, juntamente com a Secretaria de Estado de Cidades (Secid) e o Gabinete de Projetos Estratégicos.
Já quanto à situação do Córrego Mané Pinto, a Secid informou que a Defesa Civil do Município está acompanhando a obra a cada chuva. Caso sejam necessárias interdições na avenida devido ao risco de novos deslizamentos, a pasta deve acionar a Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (SMTU) para bloquear o fluxo de veículos.
Fonte: Gazeta