Laudos técnicos revelam falhas graves em 13 obras da Copa
2 de março de 2015 |
Ausência de drenagem, infiltrações, ruptura e danificação de lajes e falhas de concretagem são alguns dos problemas
Obras executadas em desconformidade com o projeto, fissuras detectadas em uma série de estruturas, ausência de tubos de drenagem, infiltrações, ruptura e danificação de lajes, além de falhas de concretagem e rachaduras em revestimentos asfálticos.
Estes problemas estão entre os principais apontamentos contidos nos laudos de desempenho estrutural e de qualidade das obras de mobilidade urbana em Cuiabá.
Os documentos foram elaborados pelo Laboratório de Sistemas Estruturais (LSE) e são fruto de um contrato firmado, por dispensa de licitação, entre a LSE e a então Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa), em 2014. O valor contratual é de R$ 2.591.581,40.
A determinação de se realizar o estudo foi do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Conforme especifica o objeto, cabe ao laboratório a realização de avaliação estrutural e ensaios dinâmicos das obras de artes especiais, com análise da qualidade do projeto executivo; provas de cargas dinâmicas; medidas das variações de temperatura (termômetros), registro simultâneo e sincronizado das ações de veículo de prova instrumentado e respostas da estrutura.
O contrato contempla, ainda, a publicação de relatórios técnicos consolidando o desempenho de cada uma das obras, bem como as recomendações para a manutenção delas.
Ao todo, 13 obras foram alvo de análise do LSE e os resultados evidenciam uma série de falhas graves e problemas estruturais.
Confira os principais apontamentos de cada uma delas:
Viaduto da Sefaz
Inaugurada em fevereiro de 2014, a obra do Viaduto da Sefaz precisou ser interditada seis meses depois. A interdição foi necessária por conta da detecção de fissuras nas juntas de dilatação do elevado.
Os laudos do LSE apontam além das fissuras detectadas em várias partes da estrutura, a ausência de cunha de nivelamento dos aparelhos de apoio. Conforme o laboratório, a cunha de nivelamento é necessária para evitar esforços horizontais no elevado.
No caso da obra do viaduto da Sefaz, o LSE também teve acesso ao chamado “diário da obra”, com anotações feitas pelo consórcio VLT-Cuiabá no decorrer dos trabalhos. O próprio consórcio executor revelou que as cortinas do elevado – assim como outros processos – estavam sendo executadas sem a apresentação da revisão dos projetos executivos.
Outros serviços, conforme relata o diário, não foram executados conforme previsto em contrato. Um dos últimos registros da obra, relata que em 07/02/2014 foi iniciada a execução de alguns reparos encontrados na estrutura do Viaduto. Contudo, em 08/02/2014, foi iniciada a pintura do viaduto, sem a completa execução dos reparos na estrutura.
“De acordo com os registros nos diários de obra, durante a construção do viaduto foram identificadas não conformidades durante a execução da terra armada nos encontros 1 e 2, que ocasionaram erosão nessas regiões quando atingidas por fortes chuvas. Considerando-se os relatos, não foram tomadas medidas adequadas para conter a terra armada, pelo contrário, a atividade de remoção do solo saturado provocou a ruptura de mais fitas de escamas, elementos que são posicionados nas camadas de terra armada para aumentar sua resistência a tração”, diz trechos do documento.
O laudo observou, em sua conclusão, a necessidade de reforço da estrutura contemplando das fundações do elevado até a superestrutura. “Somente poderá entrar em uso pleno após a aprovação por uma nova e completa inspeção, com aplicação de cargas dinâmicas da mesma natureza das previstas para a obra em serviço”, disse o documento.
Tais serviços já estão sendo executados sob a responsabilidade do consórcio construtor da obra. Informações da equipe do Governo do Estado são de que os trabalhos devem ser concluídos em, no mínimo, sete meses. Durante esse período, a avenida do CPA segue parcialmente interditada.
No Viaduto da UFMT, foi detectada a ausência de tubo de drenagem entre vigas |
Viaduto da UFMT
Parte do pacote de implantação do VLT na Grande Cuiabá, orçado em R$ 1,477 bilhão, o elevado da UFMT tinha previsão inicial de inauguração no primeiro semestre de 2013 e acabou sendo inaugurado em dezembro daquele ano.
Antes mesmo de sua inauguração, foram detectadas falhas cometidas pelo consórcio na execução dos pilares que sustentam o elevado e que precisaram ser corrigidas para garantir o nivelamento das três faixas do viaduto.
Os laudos de desempenho estrutural e de qualidade apresentaram falhas como a ausência de tubo de drenagem entre vigas da estrutura.
Também nesta obra o LSE teve acesso ao diário de execução dos trabalhos que relataram, por exemplo, que “a moldagem do concreto para a cortina do encontro E2 realizou-se fora do alinhamento vertical”.
Foi observado ainda, a utilização de concreto moldado in loco em algumas lajes de transição, em detrimento do concreto pré-moldado, conforme havia sido especificado no projeto da obra. O Laboratório, contudo, pontuou que essas irregularidades não comprometem o desempenho estrutural da obra.
Viaduto Dom Orlando Chaves
Última obra a ser licitado pelo Governo do Estado, a obra do Viaduto da Dom Orlando Chaves, em Várzea Grande, tinha custo inicial de
Na obra da Dom Orlando Chaves, houve a ruptura de pré-lajes |
R$ 17 milhões, mas o valor chegou a R$ 19,2 após aditivos firmados no contrato.
Assim como em demais obras, o levantamento das fissuras e dos danos aparentes da estrutura foi realizado a partir de observações visuais, que foram registrados por fotografia e layout das fissuras.
A partir desse levantamento, foram constatados problemas como a danificação de abas das longarinas e das pré-lajes (em alguns casos com rachaduras e armaduras expostas), a ruptura de pré-lajes, além de falhas de concretagem e rachaduras em revestimentos asfálticos.
Trincheira Mário Andreazza
Orçada em R$ 26,2 milhões a obra da Trincheira Mário Andrezza apresenta falhas como o desalinhamento das paredes dos muros, infiltrações nas cortinas, e as chamadas eflorescências (fissuras e manchas decorrentes de infiltração de água pelas paredes).
Irregularidades como estas, puderam ser observadas a partir de uma inspeção visual da obra.
Já por meio de um levantamento topográfico, verificaram-se desvios medidos nas cortinas e muros da trincheira. Alguns dados indicam que houve falhas de execução no que se refere ao controle geométrico das paredes e muros das trincheiras.
O relatório aponta também diferenças na obra executada quando comparado ao que havia sido projetado. “As medidas nas paredes do trecho central da trincheira indicam que a largura da trincheira nessa região é menor do que os valores previstos em projeto. Essa redução de largura pode também indicar a existência de parede de concreto com espessura maior do que aquela especificada em projeto”, diz trecho do documento.
A imagem mostra o desalinhamento das paredes dos muros na Trincheira da Mário Andreazza |
Foi verificado ainda, que na trincheira Mário Andreazza foram utilizados tirantes com aço de resistências menores que as especificadas em projeto.
Assim como as demais obras de mobilidade urbana analisadas, a Trincheira Mário Andreazza, segundo apontou o laudo, está habilita para utilização normal, conforme as finalidades projetadas.
Contudo, “conclui-se que a durabilidade da trincheira para uma vida útil de 100 anos somente pode ser garantida se houver a realização dos serviços de mitigação das infiltrações, destacando-se as realização de drenagem na vizinhança das cortinas mais altas, visando minimizar o ataque nas armaduras das cortinas, garantindo assim a durabilidade da estrutura”, diz trecho do laudo.
Viaduto do Despraiado
Executado pelo consórcio Atracon (formado pelas empresas Atrativa e Constral), ao valor de R$ 21 milhões, a obra do Viaduto do Despraiado é uma das que mais apresenta irregularidades, conforme aponta o laudo de desempenho estrutural e de qualidade.
As inspeções apontaram aspectos de fissuração das vigas, indícios de corrosão das armaduras de protensão, deformações exageradas dos aparelhos de apoio, falhas na concretagem da estrutura e outras indicações de possíveis interfaces de degradação do concreto ou aço.
O laudo mostra que as infiltrações observadas nos apoios da estrutura e no topo das longarinas estão favorecendo a acelerada ação de corrosão nas armaduras do elevado.
O LSE realizou ainda, ensaios para determinação do módulo de elasticidade e da resistência à compressão do concreto. A análise apresentou um valor bem inferior ao especificado. A partir de então, o Laboratório recomendou que os valores sejam encaminhados ao projetista da obra para avaliação.
Foi recomendado ainda, a reabilitação das pré-lajes, para garantir a durabilidade do tabuleiro, com injeção das fissuras nos meios dos vãos e recuperação da geometria nas regiões onde observa-se armadura exposta, garantindo-se o cobrimento das armaduras e também das vigas longarinas protendidas.
Trincheira KM Zero
Localizada na avenida da FEB, próximo ao acesso para Av. 31 de Março, a Trincheira do KM Zero possui 200 metros de extensão e uma estrutura composta por dois viadutos e passagem inferior com muros de arrimo e estacas atirantadas.
Análises da obra foram feitas de acordo com documentos encaminhados ao LSE, pela equipe de engenharia da Secopa. A partir de então, foram constatadas algumas ocorrências, sendo a principal delas, a divergência entre o projeto e a execução do empreendimento.
Em uma análise visual foram identificadas, por exemplo, leves inclinações de estacas quando comparadas as demais. De um modo geral, o relatório recomendou a realização de inspeções visuais periódicas, seguidas de manutenção preventiva ou substituição de partes se necessário. As medidas, segundo o laudo, visam a garantia da vida útil da obra (100 anos).
Na Ponte Júlio Muller, foi constatado o desaprumo de um dos pilares |
Ponte Júlio Muller
Os laudos do laboratório apontaram a existência de uma série de falhas na obra da Ponte Julio Muller, em Várzea Grande. A começar, na inspeção visual, pelos defeitos de segregação do concreto e da exposição de armaduras. Conforme apontou o documento, esses problemas são decorrentes de má vibração do concreto durante a execução da obra.
Foram encontradas também, fissuras nas lajotas pré-moldadas, infiltrações na estrutura e pilares em desaprumo.
Conforme apurou o laboratório, por conta desse desaprumo, alguns pilares acabaram sendo demolidos e as estruturas refeitas.
Viaduto do Aeroporto
De acordo com o LSE, a avaliação da segurança estrutural e da qualidade do viaduto do Aeroporto foi realizada com análise do projeto executivo, contemplando o memorial de cálculo, seguida de inspeções detalhadas na obra.
Desta análise, foram constatadas entre outros pontos, a danificação de abas das longarinas das estruturas, infiltrações, fissuras em vigas, no tabuleiro e no berço do trilho do viaduto, além da exposição de armaduras de ferro em cantos das cortinas.
Os laudos apontaram também, a existência de fissuras no viaduto, entre trilhos centrais, com ocorrência sistemática em média a cada 10m, abertura de 0,3mm.
Trincheira do Verdão
Orçada em pouco mais de R$ 26 milhões, a obra da Trincheira do Verdão também teve detectada uma série de irregularidades conforme o laudo apontado pelo LSE.
Assim como constatado em outras obras, foi verificada neste caso, a ocorrência das chamadas eflorescências nas paredes das cortinas da trincheira, além de fissuras.
Conforme o laudo detectou-se também a ocorrência de armadura exposta e segregação do concreto, assim como infiltração causada pelas fissuras das paredes das cortinas atirantadas. Segundo o laboratório, este fato é caracterizado pela falha na drenagem dessa estrutura.
Após avaliação do projeto executivo e das inspeções realizadas, foi recomendada a injeção de todas as fissuras existentes na obra com resina epoxídica, a manutenção da drenagem nas vias superiores da trincheira para evitar acúmulos de água pluvial e aumentar as cargas horizontais nas cortinas, por infiltração, entre outras advertências.
Trincheira Jurumirim
Laudo apontou generalizado estado de infiltração ao longo da Trincheira Jurumirim |
Com custo inicial previsto em R$ 39,9 milhões, a Trincheira Jurumirim teve contrato reajustado para R$ 50,5 milhões e foi entregue pelo Governo com pouco mais de dois anos e meio de atraso.
Segundo laudo estrutural verificou-se, durante a inspeção, que a drenagem da obra foi realizada posteriormente à sua execução, o que levou a seu generalizado estado de infiltração ao longo da cortina.
Foram localizadas uma série de infiltrações ao redor dos drenos e o visivel escoamento de água na estrutura das paredes.
Viaduto MT-040
O elevado localizado na avenidas Fernando Côrrea da Costa foi iniciado em fevereiro de 2013 e liberado para a tráfego de veículos em dezembro de 2014. A obra integra o pacote de implantação do VLT.
Entre as falhas detectadas nessa obra estão a danificação de partes da estrutura, como as pré-lajes, a exposição de fissuras e armaduras, além das infiltrações nos apoios da estrutura e defeitos de construção de vigas.
Por meio do diário de obra, o LSE constatou a existência de danos nas longarinas e pré-lajes, além do cobrimento de armação menor que o especificado em projeto. Estão relatadas ainda, “constantes falhas durante a concretagem das lajes e transversinas, o que refletiu na observação de fissuras ainda nas etapas construtivas da obra”.
Trincheira Santa Rosa
Iniciada em 10 de junho de 2011, a obra da Trincheira Santa Rosa tinha previsão inicial de entrega para março de 2013, e estava orçada em R$ 23.374.107,80 milhões. Inicialmente sob responsabilidade da Ster Engenharia, a obra foi assumida pela Camargo Campos e atualmente está orçada em R$ 26,3 milhões.
Os laudos detectaram problemas como fissuras nos muros de arrimo e nas cortinas atirantadas, infiltração de água nas cortinas, segregação do concreto e falhas de moldagem na face inferior de uma das vigas.
Assim como na obra da trincheira Jurumirim, verificou-se a realização da drenagem posteriormente à execução da trincheira, o que levou ao generalizado estado de infiltração ao longo da cortina.
A inspeção detectou ainda, os desaprumos das paredes das cortinas e muros, que podem ser observados a olho nú.
Conforme o laudo, a estrutura apresenta também, medidas nas paredes centrais em largura menor do que os valores previstos em projeto. Conclui-se ainda, que foram utilizados na trincheira, tirantes com aço de resistência inferior ao especificado em projeto.
Os laudos recomendam além da mitigação imediata dos defeitos, a realização de inspeções visuais periódicas, seguidas de manutenção preventiva ou substituição de partes se necessário.
Fonte: Midia News