No dia de Le Corbusier, UN Habitat e UIA celebram a Arquitetura e o Urbanismo
6 de outubro de 2014 |
O dia 6 de outubro é particularmente marcante para a Arquitetura e o Urbanismo mundial. Nessa data, a UN Habitat comemora o Dia Mundial do Habitat, em 2014 dedicado ao tema “Vozes das Favelas”, e a União Internacional dos Arquitetos (UIA) celebra o Dia Mundial da Arquitetura, refletindo sobre “Cidades saudáveis, cidades felizes”. É também o dia de nascimento do Le Corbusier (1887-1965), um dos mais importantes arquitetos do século XX, formulador da arquitetura moderna.
O objetivo da instituição da ONU dedicada aos assentamentos humanos, segundo seu diretor Joan Clos, “é aumentar a consciência das condições de vida em algumas áreas do planeta que estão lotados, com habitação inadequada, má ou sem instalações de água e saneamento e nenhuma garantia de posse. Raramente há qualquer espaço público nessas áreas e nenhuma dotação para as ruas, ou seja, há transporte público e sem acesso para serviços de emergência”.
Como parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o mundo se comprometeu a melhorar a vida de 100 milhões de moradores de favelas e outros tipos de habitações precárias até o ano de 2020. “Em 2010 nós tínhamos conseguido isso por mais de duas vezes. No entanto, com a crescente urbanização, o número de pessoas que nasceram ou se mudaram para essas áreas também está aumentando. Estimativas afirmam que já há um bilhão de pessoas que vivendo em moradias inadequadas”.
CIDADES SAUDÁVEIS, CIDADES FELIZES – Por sua vez, o objetivo da UIA é destacar o papel dos arquitetos e da arquitetura na vitalidade urbana e bem-estar da população. Duas amplas questões são colocadas para reflexão. Primeira: como os arquitetos podem projetar e construir espaços, equipamentos, habitação e paisagens urbanas “saudáveis”, que permitam o desenvolvimento, a saúde e a qualidade de vida dos moradores da cidade?, Segunda: por que meios os arquitetos podem intervir para sustentar as cidades, para infundir-lhes energia para garantir a sua viabilidade, para tratar distúrbios de antecipar e prevenir a sua degradação, para apoiar o seu crescimento saudável?
O tema do Dia Mundial da Arquitetura 2014 também é parte do compromisso global firmado entre a UIA e instituições internacionais que estão empenhadas em salvar o planeta, a qualidade do ar, da água, do solo e todos os elementos que contribuem assentamentos humanos de saúde. No 25º Congresso Mundial de Arquitetos, realizado em Durban (África do Sul), em agosto, a organização divulgou um documento em que destaca o papel do arquiteto e suas responsabilidades na concepção de um ambiente construído sustentável, “através de uma prática profissional virtuosa em particular nas áreas de energia, implementação e materiais”. O documento, “Declaração de Deveres 2050” busca o compromisso da entidade e seus parceiros na redução progressiva das emissões de CO2 e de combustíveis fosseis até 2050, por meio de projetos inovadores e de construções socialmente responsáveis.
Segundo Esa Mohamed, presidente da UIA, “os princípios da sustentabilidade devem contribuir para que nossas cidades não sejam degradas e poluídas e a saúde pública deve ser um dos objetivos fundamentais do planejamento e urbano”. Nesse sentido, a solução tecnológica não é necessariamente o mais apropriada. “Temos de inovar, não nos concentrando apenas na construção, sem levar em conta o contexto e arredores. O estudo correto do sítio dos edifícios e o melhor aproveitamento dos microclimas fazem parte disso”.
“O objetivo do projeto deve ser estendido em toda a cidade, onde o impacto de cada edifício e seus ocupantes é um elemento de planejamento urbano. As regiões da cidade devem ser facilmente interligadas e conectadas, com uma maior eficiência das redes e comunicação e de transporte, de maneira a melhorar a produtividade da população e reduzir a poluição.
“Ao atender a todos esses critérios, também é necessário destacar os pontos fortes e os recursos da cidade. Rios, córregos, matas e áreas públicas devem ser preservados e revitalizados pelo bem-estar e lazer dos cidadãos. Eles podem ser uma rede de comunicação e interação que promove a articulação e cooperação entre os membros da comunidade”.
Esa Mohamed chama a atenção para a necessidade das cidades diminuírem a dependência dos carros, do incentivo ao uso de bicicletas e da preferência para os pedestres nos centros urbanos. A participação da comunidade no planejamento e na gestão devem ser um procedimento padrão da administração municipal. “A saúde física e saúde mental são complementares. A promoção da cultura e das artes também é fundamental para o desenvolvimento e harmonia da cidade. Equipamentos como galerias, museus e centros de exposições devem ser instalados e permitir que as pessoas se enriqueçam e desfrutem do patrimônio, da arte e da cultura. Portanto, a preservação do patrimônio, de locais e de monumentos históricos, vai fortalecer o orgulho cívico e sentimento de pertencimento à cidade”.
Para o arquiteto brasileiro Roberto Simon, conselheiro federal do CAU/BR e recém eleito conselheiro mundial da UIA, o 6 de outubro serve para os profissionais e a sociedade se conscientizarem da responsabilidade do arquiteto e urbanista. “É importante considerarmos esse dia como mais um momento para refletirmos sobre o potencial da arquitetura e, como de fato, os arquitetos socialmente conscientes podem transformar a vida dos seres humanos em todo o mundo”.
“Envolvidos na rotina diária, muitas vezes nos esquecemos de avaliar nossa atuação mas seria muito positivo se todos nós usássemos o Dia Mundial da Arquitetura para apreciar o nosso próprio trabalho, e o potencial que tem para melhorar o nosso mundo. Refletir sobre o que ainda pode ser feito e, naturalmente, comemorar o que já conquistamos, um estímulo para seguirmos adiante”.
DIA MUNDIAL DO HABITAT – Em 2016, as Nações Unidas promoverão a Conferência Mundial de Desenvolvimento Habitacional e Urbano Sustentável – Habitat III, que buscará a definição de uma nova agenda urbana. “Mas não podemos esperar até lá para impedir a disseminação de favelas. Os nossos cidadãos urbanos têm o direito à moradia adequada e serviços básicos e precisamos ter certeza de que nossas cidades são planejadas adequadamente para atender a essa demanda”, afirma Joan Clos.
Ele lembra que os moradores de locais subnormais também são desproporcionalmente afetados pela mudança climática, com casas construídas muitas vezes precariamente em encostas ou espaço de construção e materiais não apropriados, tornando-os vulneráveis a deslizamentos de terra, inundações e terremotos.
O diretor da UN Habitat reconhece que estão sendo feitos grandes esforços para melhorar muitas favelas em todo o mundo, mas esses locais são uma manifestação da rápida urbanização sem controle, resultado da expansão de nossas cidades sem projeto ou regulamento, em desrespeito aos seus cidadãos. Nesse contexto, “precisamos urgentemente concentrar nossos esforços em um planejamento urbano robusto e no provimento de habitações seguras e a preços acessíveis para atender as necessidades crescentes dos nossos cidadãos”. Segundo ele, diversas experiências demonstram que os programas de urbanização de favelas, além de conseguirem melhores condições de vida para seus moradores, resultam em maiores impactos econômicos e sociais para as cidades.
Quase um bilhão de moradores de favelas urbanas estão contando com nossas ações. Devemos ouvir as suas vozes” – concluiu.
Links relacionados:
= Site da UN Habitat
= Site da UIA
= Integra da “UIA lança declaração por deveres ambientais para 2050″
= Sobre Le Corbusier
http://arquiteturaurbanismotodos.gov.br/lecorbusier/