O papel do arquiteto e urbanista no bem-estar das pessoas
1 de outubro de 2019 |
O mês de setembro foi dedicado a conscientização da prevenção do suicídio, conhecido como setembro amarelo. Apesar do encerramento do mês, abordar temas que tratam sobre a prevenção do suicídio são importante em todos os períodos do ano. Para falar sobre a influência do arquiteto e urbanista na qualidade de vida das pessoas, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso conversou com a arquiteta e urbanista, Priscilla Bencke.
Priscilla Bencke é arquiteta e urbanista, pós-graduada em arquitetura de interiores, se especializou em projetos para ambientes de trabalho na escola alemã Mensch&Büro Akademie. Única profissional no Brasil com a certificação “Quality Office Consultant”. É responsável pela Bencke Arquitetura, atuando nas áreas de projeto e execução, para empresas que buscam a produtividade através do bem-estar e da qualidade de vida.
Confira a entrevista:
Qual o papel do arquiteto e urbanista em relação a qualidade dos espaços?
Já existem pesquisas que comprovam que o ambiente físico impacta no cérebro das pessoas e consequentemente no comportamento delas. Essas pesquisas estão sendo desenvolvidas tanto por arquitetos, neurocientistas, quanto por psicólogos. O nome dado para esse estudo, popularmente conhecido, como neuroarquitetura. A neurociência aplicada a arquitetura.
Eu acredito que o papel do arquiteto e urbanista é criar ambientes que possam proporcionar uma experiência positiva para as pessoas. Então quando se sabe e entende que o ambiente físico impacta na vida das pessoas, conseguimos pensar o projeto, o ambiente de uma forma mais estratégica. Impactando o espaço e proporcionando uma experiência mais assertiva para quem for utiliza-lo.
O que o profissional deve priorizar na hora de projetar?
Acredito que a fase mais importante em qualquer projeto, é a fase inicial, o diagnóstico dos ambientes. O primeiro passo é colocar o ser humano como centro de qualquer definição no projeto. Quando partimos desse princípio de procurar entender ao máximo quem é a pessoa que vai utilizar esse espaço, desenvolvemos empatia e conseguimos nos colocar no lugar do outro. Assim conseguimos entender o que é ideal para aquele usuário, qual experiência ideal, só assim conseguimos ter argumentos para as nossas decisões de projeto.
Por isso sou muito a favor de humanizarmos mais a nossa profissão, para realmente conseguirmos fazer ambientes mais assertivos, impactando no bem-estar das pessoas. A partir disso, vamos poder contribuir com a nossa sociedade, com a qualidade de vida e saúde das pessoas.
Você acredita que os profissionais estão se preocupando mais em proporcionar esse bem-estar as pessoas?
Eu acredito que sim, com os cursos e aulas que ministro, tenho tido muito contato com arquitetos e urbanistas e percebo que muitos profissionais colocam o usuário em primeiro lugar, humanizando o processo do projeto. Porém em alguns casos, mesmo sem querer, acabamos priorizando outras questões, como uma legislação especifica ou estética do ambiente e nos esquecemos do principal: as pessoas que vão estar dentro desses espaços.
O profissional está voltando seu olhar para o seu humano, porém acredito que precisamos desenvolver duas habilidades essenciais, a empatia e o não julgamento. Todos os nossos clientes, assim como qualquer outro usuário que vão usufruir desses espaços são pessoas diferentes, com expectativas diferentes. Precisamos ter cuidado, ter sensibilidade, não julgar e realmente ajudas essas pessoas, criar um espaço que favoreça a elas. Isso seria o mais assertivo para que todos tenham uma boa experiência.
Sobre o setembro amarelo, você acredita que o arquiteto e urbanista pode ajudar de alguma maneira as pessoas nesse sentido?
Totalmente. Como sabemos, a neurociência aplicada a arquitetura comprova que o ambiente física impacta no comportamento e quando falamos nesse comportamento humano, falamos também de questões fisiológicas e também emocionais, então sim, estamos impactando na saúde dessas pessoas. Se analisarmos os dados do último relatório da Organização Mundial da Saúde, notamos que há números expressivos no Brasil de casos de ansiedade, de casos de depressão e também números relacionados a suicídio.
A arquitetura do ambiente não vai resolver todos os problemas no mundo, mas não tenho dúvidas de que ela pode sim, ser um fator que vai ajudar a melhorar a situação de pessoas que sofrem de ansiedade e/ou depressão. Se ela está em um ambiente físico que realmente faça ela se sentir bem, acredito que conseguimos impactar nem que seja um pouquinho no bem-estar e tentar diminuir um pouco esses números tão alarmantes que vemos em nosso pais.
Giovanna Fermam, Comunicação CAU/MT