Quero minha cidade de volta!
26 de novembro de 2013 |
Tirar a feira da praça é tirar a cidade de seus moradores
Como muitos que vivem em Cuiabá, sou pau rodado. Vivo aqui há 17 anos. Escolhi a cidade como minha e ela me aceitou. Em troca do meu amor, me deu três: o marido e dois filhos cuiabaninhos, aliás, cuiabanérrimos. Falam vôte, amam farofa de banana e manga colhida no pé. Têm orgulho de ser daqui. Eu também.
Como muitos, sofro com as obras da Copa. E, como tantos, também busco paciência para “sobreviver a elas”. Apostando que vai melhorar.
“A feira na Praça Santos Dumont é um lugar para se passear com tranquilidade, com nossas famílias. Nada contra, mas não quero que meus filhos cresçam passeando dentro de um shopping”
Os problemas se sucedem. As denúncias se avolumam. E muitos estão, de fato, sendo prejudicados em nome da Copa. Fui informada que a Prefeitura da Capital notificou os ocupantes das barracas de artesanato e alimentação da Praça Santos Dumont para que saiam do local. Há 20 anos a feira acontece ali. Reúne artesanato e gastronomia de qualidade. Mais ainda: reúne gente talentosa, trabalhadora, que tira dali seu sustento. Reúne famílias, sorrisos, bons momentos. O que faz daquele espaço um lugar diferente e agradável de estar.
Em nota de esclarecimento, a Prefeitura tenta me convencer que é preciso tirá-los de lá, por conta de duas notificações do Ministério Público: “cumprimento da Lei Complementar 04, que proíbe a ocupação de praças e calçadas por ambulantes” e um “procedimento legal do Sindicato dos Bares e Restaurantes, questionando a comercialização de alimentos na Praça Santos Dumont”, entre outras, “por serem Rotas Protocolares da FIFA, nas quais não poderá haver comercio ambulante durante o período da Copa”.
Convenhamos, isso é justificativa para tirar uma feira que ocupa o mesmo espaço – legalmente, vale lembrar – há 20 anos? Porque não fazem um acordo e, nos dias de jogo, ou no mês da Copa, desmontam as barracas e pronto? Porque é preciso fazer tudo isso?
Tirar a feira da praça é tirar a cidade de seus moradores. Quantos espaços públicos a gente, de fato, usufrui?
Quase não aproveitamos a cidade. A feira na Praça Santos Dumont é um lugar para se passear com tranquilidade, com nossas famílias. Nada contra, mas não quero que meus filhos cresçam passeando dentro de um shopping. Prefiro-os correndo na praça. Livres. Sentindo o calor cuiabano no rosto. Quero que eles amem e vivam a cidade que nós moramos!
Governantes, legisladores e promotores esquecem de ver a cidade com olhos de morador. Sensibilidade não faz parte desse mundo pautado pelo papel (que aceita tudo o que convém). Infelizmente.
MÁRCIA ANDREOLA é mãe, moradora de Cuiabá e jornalista.
Fonte: Mídia News
Comunicação CAU/MT