Unesco declara Patrimônio Cultural da Humanidade o Conjunto da Pampulha
18 de julho de 2016 |
Projetadas por Oscar Niemeyer, as obras “foram o início de Brasilia”, segundo ele
O Conjunto Arquitetônico da Pampulha, um dos cartões-postais mais representativos de Belo Horizonte, é Patrimônio Cultura da Humanidade, conforme decisão tomada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) considerou neste domingo (17/07/16), em reunião realizada na Turquia.
O conjunto da Pampulha abrange quatro prédios de estilo modernista, ao redor da Lagoa da Pampulha, projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em 1943, concretizando ideia do então prefeito Juscelino Kubitscheck. “A Pampulha foi o início de Brasília, “A Pampulha foi o início de Brasília, os mesmos problemas, a mesma correria, o mesmo entusiasmo, e seu êxito influiu, com certeza, na determinação com que JK construiu a nova Capital”, disse Oscar Niemeyer, morto em 2012.
Além da Pampulha, Niemeyer também deixou sua marca em outro bem tombados pela Unesco: o Plano Piloto de Brasília, trabalho em conjunto com Lucio Costa. É também coautor no projeto do Edifício Gustavo Capanema ou Palácio Capanema, originalmente sede do Ministério da Educação, Saúde e Cultura, que se encontra na lista indicativa para futura análise de tombamento. Agora são 20 os patrimônios mundiais da humanidade tombados pela Unesco no Brasil. Desses, sete são bens naturais e 13 bens culturais. Veja a lista completa clicando aqui.
O fato de ser um dos primeiros conjuntos modernistas do mundo conta muito na escolha. “É a primeira expressão de Niemeyer, então com pouco mais de 30 anos. Ele usou com flexibilidade o concreto armado. Criou curvas e formas ousadas que impactaram a arquitetura mundial”, disse o presidente do Icomos no Brasil, Leonardo Castriota. O órgão é uma entidade da Unesco que analisa candidaturas a Patrimônio Mundial da Humanidade.
As obras foram concebidas para fins distintos. A obra-prima do conjunto é a Igreja de São Francisco de Assis, onde Niemeyer ousou utilizar o concreto armado em formas inusitadas para a época. Seu interior destaca-se pelos quatorze painéis que retratam a Via Sacra, por sua vez considerados a obra-prima de Cândido Portinari. A parte externa é marcada por jardins de Burle Marx e mosaicos nas fachadas laterais, de autoria de Paulo Werneck. A igreja católica, não apreciou inicialmente o aspecto inovador do projeto, e somente reconheceu o edifício como igreja em 1954, ou seja, onze anos depois de sua construção. A igrejinha da Pampulha, como é conhecida, já foi tombada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Outro destaque é o Cassino também conhecido por Palácio de Cristal, por causa de seus vidros espelhados. Os jardins que circundam o prédio foram feitos pelo paisagista Roberto Burle Marx e incorporam estátuas de Alfredo Ceschiatti, August Zamoiski e José Pedrosa. Inaugurado em 1943, o cassino fechou em 1946, quando o jogo foi proibido no país. A partir de 1957, ele passou a abrigar o Museu de Arte da Pampulha (MAP), que conta hoje com um acervo de 1,4 mil obras.
As outras edificações são a Casa de Baile e o Iate Tênis Clube. A Casa do Baile se localiza em uma ilhota artificial, acessada por uma ponte de onze metros. Se destaca pelas formas da fachada e marquise sinuosa. Construído com o nome de Iate Golfe Clube, e tombado em 1994 pelo Iphan, a arquitetura do Iate Tênis Clube (ITC) remete a um barco que se lança nas águas da Pampulha. Os jardins são de Burle Marx.
Também participou do projeto original o engenheiro Joaquim Cardozo. Além das quatro obras de Oscar Niemeyer, a própria Unesco sugeriu que o patrimônio a ser preservado alcançasse uma área maior, privilegiando a paisagem como um todo. Por causa disso, além da apresentação de projeto de limpeza da Lagoa da Pampulha, o Icomos recomendou a inclusão das praças Dalva Simão e Dino Barbieri ao projeto, aumento da extensão do perímetro e a recuperação de trechos do paisagismo de Burle Marx presentes no projeto dos anos 40. Também um anexo do Tênis Clube, da década de 1970, deverá ser demolido. Localizam-se também nas imediações da Pampulha a Casa Kubitscheck (antiga residência do presidente JK) e o Estádio do Mineirão.
MANIFESTAÇÃO CAU/MG
É com muita satisfação que recebemos a notícia da conquista do título de Patrimônio Mundial da Humanidade, declarado pela UNESCO, para o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, por representar uma obra prima do gênio humano.
É uma vitória para todos os mineiros e brasileiros o reconhecimento do trabalho pioneiro e dedicação de todos os artistas, arquitetos e urbanistas envolvidos na criação deste conjunto arquitetônico e urbanístico.
A expectativa agora é que sejam ampliados os esforços e o empenho de todas as esferas de poder, instituições e sociedade na preservação e utilização tanto do patrimônio construído quanto do ambiental.
Esse título registra a importância do trabalho integrado de profissionais e com isso, evidencia a contribuição dos profissionais arquitetos e urbanistas para a melhoria da qualidade de vida das cidades, da sociedade, ou como o próprio título apresenta, da Humanidade.
VERA CARNEIRO DE ARAÚJO
Presidente do CAU/MG
MANIFESTAÇÃO IAB-MG
Compartilhamos com o mundo, um registro único e mineiro, uma obra prima, uma obra ímpar da arquitetura, urbanismo, paisagismo e artes plásticas.
O Conjunto Moderno da Pampulha, desde a década de 40, é para nós mineiros, de muitas gerações, motivo de orgulho e referência de qualidade em projeto de arquitetura e urbanismo, no momento em que a UNESCO o nomeia Patrimônio Mundial no Brasil, Paisagem Cultural do Patrimônio Moderno, fortalece o nosso compromisso com a sua preservação e nossa história. Registramos e parabenizamos a importância da gestão Juscelino Kubitschek, que acreditou no valor do projeto arquitetônico, com o arquiteto Oscar Niemeyer, o paisagismo por Roberto Burle Marx, as artes plásticas com painéis com azulejos do pintor Candido Portinari e esculturas de artistas renomados como Alfredo Ceschiatti e José Alves Pedrosa.
O Instituto de Arquitetos do Brasil/MG, que se instalou em BH também em 1943, comemora com muito orgulho, a vitória da candidatura do Conjunto Moderno da Pampulha, como Patrimônio Mundial , pela UNESCO.
ROSE GUEDES
Presidente IAB/MG e Diretora de Ralações Institucionais da ABAP
OUTRAS REPERCUSSÕES
O Governo Brasileiro declarou que “A Unesco, ao reconhecer o valor universal excepcional da Pampulha, considerou o conjunto como símbolo de uma arquitetura moderna distante da rigidez do construtivismo e adaptada de forma orgânica às tradições locais e às condicionantes ambientais brasileiras.” e continua descrevendo o projeto de Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Candido Portinari: “criou uma nova linguagem arquitetônica fluida e integrada às artes plásticas, ao design e à paisagem.”
Em nota oficial, a presidente do Iphan, Kátia Bogéa, completa: “O título de Paisagem Cultural do Patrimônio Moderno implica reconhecimento internacional do Conjunto como um bem que possui três características fundamentais. Primeiro, é uma obra-prima do gênio criativo humano. Segundo, é o testemunho de um considerável intercâmbio de influências do desenvolvimento da arquitetura. E, terceiro, constitui um exemplo excepcional do conjunto arquitetônico de um período significativo da história, no caso, o movimento moderno.” Em Minas Gerais, estado com maior número de patrimônios tombados pelo Iphan, os centros históricos de Ouro Preto e Diamantina, assim como o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, já possuem este título.
Fonte: CAU/BR
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