“Vão bater e não farão a curva”, diz professor sobre tráfego de ônibus
3 de março de 2015 |
Prefeitura de Cuiabá admitiu que ainda não tem um plano de trânsito para o local.
A falta de projeto e de fiscalização na obra do Viaduto da Sefaz ocasionaram erros graves em sua estrutura.
Segundo o professor Luís Miguel de Miranda, doutor em Engenharia de Trânsito e integrante do Núcleo de Estudos de Logística e Transporte (Nelt), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), as falhas irão afetar até mesmo a funcionalidade do elevado.
Avaliações feitas por ele demonstraram que a obra perde sua função (de desafogar o trânsito e dar livre passagem ao VLT) porque dois ônibus, ou veículos de grande porte, não conseguiriam cruzar o viaduto concomitantemente, já que a distância mínima entre os veículos para realizarem a curva seria de 50 centímetros.
“Se colocar dois veículos grandes no viaduto eles ficam muito próximos um do outro. Irão bater e não farão a curva. Se não for para usar esse retorno pra ônibus, a obra perde-se 50% da funcionalidade. Eles têm que passar por cima, e se não puderem vão passar por onde? A geometria é insuficiente. Vão ter que prolongar o itinerário das linhas e causar mais trânsito e congestionamento. Que corrijam logo pra entrar pelo menos um ônibus no viaduto”.
O secretário municipal de Mobilidade Urbana, Thiago França, afirmou, nesta semana ao Repórter MT, que prefere não comentar a funcionalidade da obra até que ela seja totalmente liberada pelo Governo do Estado. Ele disse que a prefeitura ainda não tem um plano de trânsito para o local.
“Dois ônibus juntos não fazem a curva em nenhum lugar no mundo, não só ali. Não temos ainda um plano, mas se trata de uma que ainda não está totalmente concluída. É um viaduto que não foi efetivamente testado pela população, então é complicado falar dele. Vamos aguardar a conclusão do reforço pra poder falar alguma coisa”, disse ele.
Segurança da obra
Apesar das graves falhas estruturais, Luiz Miguel afirmou que não há risco de desabamento repentino do viaduto. De acordo com ele, o escoramento deve fortalecer a resistência da obra, reduzindo sua beleza, mas dando maior resistência.
Doutor em trânsito questiona fluxo de obra problemática
“Não vejo risco. Pra cair, ele vai avisar de várias maneiras, como por exemplo, abrindo rachaduras de até meio centímetro. O laudo detectou que tem uma insuficiência de resistência, então vão ter que reforçá-la. O viaduto vai virar um ‘corcunda de Notre Dame’, imensamente feio, e precisam corrigir a superestrutura pra deixar os ônibus passarem. Vai penalizar muito a população”, avaliou o doutor.
O viaduto da Sefaz é uma das problemáticas obras da Copa. Seis meses após ser entregue, apresentou rachaduras na pista. Desde agosto do ano passado, está interditado. A fiscalização feita pelo Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) gerou auto de infração e multas, sendo duas no valor de R$ 500 e uma de R$ 5.200.
Reparos de escoramento estão sendo realizados na obra. As vias foram trancadas para a colocação de vigas de sustentação no elevado. As alterações no trânsito devem permanecer durante cinco a sete meses, até a conclusão dos reparos.
Mesmo antes de ser inaugurado, em fevereiro de 2014, já mostrava baixa qualidade, com asfalto defeituoso, rachaduras e abertura de espaços entre as vigas de concreto, que colocariam em risco a segurança da obra.
A obra já custou, até agora, R$18 milhões aos cofres públicos. No entanto, ainda não foi contabilizado se haverá cobranças adicionais do Consórcio VLT-Cuiabá.
O Viaduto da Sefaz foi interditado parcialmente no dia 26 de julho para que no local fossem realizados reparos nas junções do viaduto, que faz com que a dilatação seja maior do que a prevista.
No local também foi realizada a blindagem dos cabos elétricos responsáveis pela iluminação do elevado. Já no início de agosto foi anunciada a interdição total do local. Em seguida, o Consórcio anunciou que o local permaneceria interditado até 2015 para obras.
Fonte: RepórterMT