Triptyque restaura edifício de 1920 no centro paulistano e o transforma em centro de arte e música da Red Bull, o Red Bull Station
3 de janeiro de 2014 |
Prédio da década de 1920 no Centro de São Paulo é restaurado para abrigar centro de arte e música da multinacional Red Bull
Muitos dos ocupantes dos mais de 25 mil veículos que circulam todos os dias na avenida 23 de maio, importante trecho de ligação Norte e Sul de São Paulo, talvez nunca tenham notado o antigo prédio de dois pavimentos do começo do século 20, que durante anos abrigou estações de transformação elétrica da companhia de energia Light, hoje Eletropaulo. Em uma miniquadra na ponta da praça das Bandeiras, o volume deve existir há tempos no imaginário de quem anda a pé nas passarelas do lugar, mas talvez seja apenas levemente notado por quem fica parado no trânsito da avenida.
Enquanto isso, a multinacional Red Bull, que dedica atenção à arte contemporânea e à música, precisava de um espaço permanente para sediar suas residências artísticas, onde artistas convidados produzem e expõem suas obras. O prédio tombado encaixou-se ao espírito urbano do projeto, e o local foi selecionado a dedo pela empresa e pelos arquitetos da Triptyque, responsáveis por sua transformação em centro cultural, o Red Bull Station.
Segundo o escritório franco-brasileiro, a belíssima arquitetura do lugar, sua localização central e a promessa de devolver à população a possibilidade de se apropriar de áreas do Centro antes abandonadas foram determinantes na escolha. “Nossa atuação contemplou o restauro e a intervenção em um prédio com volume e fachada tombados, respeitando o existente e a alma industrial da construção”, explicam Greg Bousquet, Carolina Bueno, Olivier Rafaëlli e Guillaume Sibaud, do Triptyque.
O discreto projeto revelou a beleza da estrutura, as grandes vigas curvas e generosos vãos, e evitou grandes interferências formais. O novo aparece na forma de uma grande escada e marquise, ambas metálicas, que abraçam a porção lateral e superior do prédio. O edifício é formado por térreo, mezanino, primeiro pavimento e cobertura, além de um subsolo agora ocupado, mas que durante muito tempo esteve inacessível, completamente inundado. Segundo diretrizes do tombamento, a restauração deveria se concentrar somente nas fachadas, mas a posição dos arquitetos de revelar a arquitetura quase industrial do começo do século 20 resultou também no destaque da estrutura, acabamentos e fechamentos originais dos espaços internos.
A camada de pintura dos pilares aparentes foi descascada com hidrojateamentos contínuos que revelaram as primeiras cores, e as lajes de cobertura foram mantidas aparentes, com buracos e imperfeições resultantes do uso anterior. O fechamento de tijolos foi tratado, mantido aparente em alguns espaços e fechado por gesso acartonado em outros, para possibilitar a melhor visualização das obras de arte. Nas áreas destinadas a exposições, elementos não estruturais foram demolidos para obter uma planta mais livre, abrindo áreas de exposição multiuso, como a grande galeria no térreo, que divide espaço com um estúdio de gravação. Todos os pisos de todos os pavimentos foram recobertos com uma camada de concreto, porque apresentavam imperfeições e canaletas de captação de água, usadas no resfriamento dos equipamentos.
O mezanino recebeu as áreas administrativas enquanto o pavimento superior abriga os artistas residentes do projeto Residência Artística, com edição trimestral. A Triptyque transformou seis antigas baias, que guardavam os transformadores, em ateliês, com a manutenção das pesadas portas metálicas originais. No mesmo piso, uma galeria transitória abrigará os trabalhos em processo de acabamento, e um grande espaço de uso coletivo irá sediar workshops e palestras.
O tombamento da envoltória não impediu que, além do restauro, as janelas recebessem um novo pano de vidro interno para garantir melhor acústica aos ambientes. E, engastada na fachada lateral, uma escada metálica leva ao primeiro pavimento e à cobertura, onde lajes tipo steel deck e concreto formam um terraço, palco de eventos e instalações artísticas. Coroando a construção, uma marquise metálica destaca-se do edifício, revelando ao entorno que ali existe um novo uso.
O pano metálico é apoiado em três pontos: dois pilares metálicos de seções e comprimentos distintos e na caixa do antigo elevador readaptado, que também sobe ao solário. Além de proteger o espaço, a folha capta a água da chuva, como um funil, e a distribui para banheiros e para o antigo chafariz.
O sistema hidráulico e elétrico para atendimento do novo programa acabou sendo ramificado aparente em todas as paredes e sob os rodapés. Como o prédio da década de 1920 é localizado em uma região com inundações frequentes e abrigava transformadores, um dos dispositivos mais usados para o resfriamento dessas estruturas era a água. Os arquitetos encontraram canaletas de escoamento de água em quase todos os pisos, bem como tubulações embutidas nas paredes, que ainda estão sendo identificadas e serão alvo de uma restauração mais fina, a partir de 2014. Complementa esse sistema a fonte da cobertura, que mantinha resfriada a laje superior. “Toda a cobertura recebia uma camada de água e não encontramos uma infiltração sequer. A impermeabilização era muito benfeita”, explica Fernanda Rossi, da construtora Lock, responsável pela obra.
Fonte: AU
Comunicação CAU/MT