As habitações indígenas e sua influência na produção arquitetônica contemporânea
19 de abril de 2021 |
Hoje, 19 de abril, comemora-se o Dia do Índio, que foi instituído no Brasil via decreto-lei, no ano de 1943. A data tem o propósito de uma reflexão crítica das relações de dominação ocorrida com esses povos, destacando sua importância na formação da cultura brasileira. É também um espaço para a preservação de sua história e valores culturais. Diante dessa data, iremos refletir acerca das habitações indígenas e sua influência na produção arquitetônica contemporânea.
As construções indígenas variam conforme uma série de fatores – como tribo, quantidade de pessoas, finalidade de uso. Contudo, elas têm em comum a capacidade de se adaptar as diferentes condições do ambiente, além de ser um exemplo de modelo de sustentabilidade. Um exemplo de aplicação das técnicas construtivas indígenas na arquitetura brasileira contemporânea, é o Centro Sebrae de Sustentabilidade.
Localizado em Cuiabá, Mato Grosso, o projeto foi desenvolvido pelo arquiteto e urbanista José Afonso Botura Portocarrero, Doutor em tecnoíndia: tecnologias de construção indígenas. Ele foi convidado pelo Sebrae para desenvolver o projeto devido aos seus estudos sobre as habitações dos povos do Xingu, em especial do povo Yawalapiti, considerados exemplares em termos de arquitetura bioclimática.
O Centro Sebrae de Sustentabilidade tem um formato ogival, parecido com o de uma oca. Foi construído reaproveitando resíduos e adaptando o projeto ao terreno em declive, evitando a terraplanagem e preservando a vegetação nativa. O projeto propiciou conforto térmico devido a cobertura em duas cascas, que criam um bolsão de ar e promovem o resfriamento interno da construção. Promoveu também iluminação natural, captação da água da chuva para reutilização, e instalação de compostagem dos resíduos gerados no edifício.
O trabalho de José Afonso ganhou destaque nacional e internacional. Em 2018, assim como em 2020, o projeto do Centro Sebrae de Sustentabilidade foi utilizado em campanhas nacionais promovidas pelo CAU. A divulgação do projeto e suas características serviram como base para defender as ideias de que a arquitetura faz a diferença na vida das pessoas, assim como o fato da arquitetura e urbanismo ser para todos.
Nos últimos anos o Centro Sebrae de Sustentabilidade recebeu diversas indicações e prêmios, entre eles podemos citar o Selo PROCEL Edifica Nivel A em projeto e edificação construída em 2013; o Prêmio COBEE (Congresso Brasileiro de Eficiência Energética) em 2014; Certificação BREEAM In-use, classificação “Excelente” do Building Establishment Environmental Assessment Method, em 2016; Prêmio 15º Benchmarking Brasil do Instituto Mais, em 2017; Certificação Greenbuilding Council Zero Energy (GBC), em 2017; e prêmio BREEAM Awards 2018 como o melhor edifício sustentável das Américas e também na categoria voto popular.
José Afonso Botura Portocarrero
Possui graduação em arquitetura e urbanismo pela Universidade Católica de Santos (1976), especialização em planejamento urbano pela Universidade de Dortmund – Alemanha (1985), mestrado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso (2001) e doutorado em arquitetura e urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo-FAU/USP (2006). Autor do livro Tecnologia indígena em Mato Grosso: habitação, contemplado no 25º Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, São Paulo (2011). Atualmente é Conselheiro Federal do CAU/MT na Gestão 2021-2023.
Juliana Kobayashi, Comunicação CAU/MT
Com informações do Centro Sebrae de Sustentabilidade