Artigo: Ergonomia e o (des)conforto dos usuários em salas de espera, por Jandira Pedrollo
5 de julho de 2022 |
A palavra “Ergonomia” pode soar estranha, mas seu significado é fundamental ao dia a dia de todos. Deriva do grego onde “ergos” significa trabalho e “nomos”, normas, trata do relacionamento entre o ser humano e suas condições laborais.
Segundo o dicionário Michaelis é: “1 Estudo científico da engenharia industrial, em conjunto com anatomistas, fisiologistas e psicólogos, para estudar a relação do homem com as máquinas em seu ambiente de trabalho. …” 2 Adequação da tecnologia, da arquitetura e do desenho industrial em benefício do trabalhador e de suas condições ideais de trabalho.
Sobre o assunto há inclusive Norma Regulamentadora (NR 17) do Ministério do Trabalho que versa sobre a questão, porém trata da ergonomia no referente à segurança e Medicina do Trabalho.
Apesar da definição focar no ambiente de trabalho os resultados dos estudos vão além, são aplicados nos demais ambientes da atividade humana. O que me levou a escrever esse artigo é o (des)conforto nas salas de espera dos laboratórios e consultórios médicos.
O mobiliário não proporciona a acomodação adequada para que o paciente aguarde por horas o atendimento. A impressão que se tem é que os modelos das poltronas não são para o arquétipo brasileiro, e sim, europeu. Penso que o projeto do mobiliário foi copiado ou importado de países onde a estatura da população é bem mais avantajada que a nossa.
Após os transtornos e reclamações (em vão) às recepcionistas para que sejam repassadas aos responsáveis, comecei a tentar entender o problema, e assim pesquisei na internet qual é a estatura média do brasileiro. Eis a surpresa, há grande diferença entre a estatura feminina e a masculina, portanto deveria haver poltronas com alturas diferenciadas.
Segundo matéria publicada no site da Associação Brasileira de Nutrição, com base no IBGE (2010) a altura mediana do homem brasileiro, na faixa etária de 20 a 24 anos, é1,73 m e, das mulheres, de 1,61m. De acordo com matéria publicada na revista Veja (26 jul 2016) “Brasileiro cresceu, mas continua com estatura baixa”, a população cresceu 8,6cm, mas ainda possui baixa estatura em relação às outras nacionalidades. E o que isso significa? Significa que a população de idosos tem estatura mediana menor que esses 1,73m e 1,61m para a população masculina e feminina respectivamente.
Eu, no “alto” dos meus 1,58m sofro muito quando frequento consultórios médicos. Já tentei usar calçados com plataforma na tentativa de minimizar o desconforto. De nada adianta saltos se as coxas acompanham a proporção das pernas e não nos proporciona que alcancemos o encosto da poltrona.
Comecei a observar que a maioria dos homens se acomodavam confortavelmente, ao passo que a grande maioria das mulheres não encontravam posição para acomodar seus pés no chão ao mesmo tempo que a coluna no encosto da poltrona.
Então peço atenção principalmente à população idosa e às crianças que, já que somos obrigados a esperar por horas para sermos atendidas, que ao menos tenhamos conforto.
Esse é um convite à reflexão aos profissionais que trabalham com o desenho de mobiliário e mesmo com a escolha desse para salas de espera, que observem os padrões da população usuária, e assim sigam os conceitos de ergonomia. Que observem a diversidade da população, os 12cm entre a estatura mediana masculina e a feminina fazem grande diferença no conforto do usuário. E o principal, que o mobiliário seja dimensionado de acordo com os padrões da população brasileira uma vez que não há globalização (generalização) na estatura da população.
Jandira Maria Pedrollo, arquiteta e urbanista, foi Diretora de Pesquisa e Informação do IPDU/Cuiabá, Assessora técnica do CAU/MT e Diretora de Planejamento da Região Metropolitana/Agem-MT, é membro da Academia de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso – AAU/MT, jandirarq@gmail.com.
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