Filmes sobre Lelé levantam discussão sobre os rumos da arquitetura
10 de setembro de 2014 |
A sessão especial de cinema em homenagem a João Filgueiras Lima, o Lelé, reuniu diferentes gerações de arquitetos na sede do IAB-RJ na noite do dia 3 de setembro. Após a exibição dos filmes, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), Haroldo Pinheiro, fez um relato da sua experiência com Lelé, com foco na contribuição do arquiteto carioca, radicado na Bahia, para o desenvolvimento da arquitetura nacional.
Dedicado ao desenvolvimento de uma arquitetura social, Lelé morreu no dia 21 de maio deste ano, em Salvador, aos 83 anos. Profissional com forte presença e experiência no canteiro de obras, ele inovou no uso de estruturas pré-fabricadas e no aproveitamento da iluminação natural e ventilação em seus projetos.
Preocupado com os rumos da profissão, Lelé fazia advertências quanto à falta de integração do trabalho do arquiteto. Ele acreditava que a arquitetura deve ser pensada como processo e não se limitar ao desenho. “O arquiteto precisa estar ligado a todas as formas de atuação no prédio. É fundamental para o ensino que se estimule a integração do profissional a outras técnicas de produção. Não podemos aceitar a fragmentação do conhecimento”, disse Lelé em palestra ministrada no evento Arq.Futuro, em 2011.
Para incentivar essa integração do arquiteto às técnicas de produção, Lelé criou, em 2009, oInstituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat (IBTH), uma entidade sem fins lucrativos para o desenvolvimento de projetos e estudos arquitetônicos de prédios públicos com utilização de estruturas pré-fabricadas. Ele defendia esse modelo de produção por oferecer condições deredução de custos e de prazos.
Ao comentar sobre a experiência de Lelé com o programa habitacional Minha Casa Minha Vidapara regiões de favelas de Salvador, o presidente do IAB-RJ, Pedro da Luz, perguntou ao presidente do CAU/BR, Haroldo Pinheiro, se é possível viabilizar uma arquitetura que não seja pautada pelo jurídico, que imobiliza a classe. A convite do governo federal, Lelé propôs a realização de um projeto para o Minha Casa Minha Vida pelo IBTH. A proposta, no entanto, fracassou. O arquiteto atribuiu a inviabilidade do processo à incompreensão do Tribunal de Contas da União (TCU).
Para Haroldo Pinheiro, o IAB, o CAU/BR e os sindicatos já fazem o que lhes cabe fazer, e estes trabalham juntos para mudar a realidade do país. “Recentemente, conseguimos uma vitória formidável contra o RDC. Eu acreditava que a gente conseguiria atrapalhar a aprovação da MP 630, mas não derrubar. Sob a liderança do IAB e o apoio de entidades que normalmente não atuavam conosco, como o Sinaenco, conseguimos esse feito”, afirmou Haroldo Pinheiro.
A sessão especial de cinema foi promovida pelo IAB-RJ e pelo grupo de pesquisa Laboratório de Mídias Urbanas (Lamur), da Universidade Federal Fluminense (UFF). Os filmes exibidos foram a entrevista de Lelé ao programa argentino Tele Proyecto, gravado no XXIV Congresso Panamericano de Arquitetos de 2012, e a palestra ministrada no evento Arq. Futuro de 2011, onde o arquiteto detalhou suas principais obras.
Fonte: IAB/RJ – Acesso 05/09/2014